sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A guerra no trânsito

fotos: Alexandre Nervo
texto: Mariana Baierle Soares

Em 2006 no RS foram registrados, segundo o Detran/RS, 33.528 feridos no trânsito e 1.224 mortos. Em 2007, foram mais 34.398 feridos e 1.185 mortos. No total, em 2006, foram 34.752 vítimas e, em 2007, outras 35.583. Em 2008, se as estatísticas continuarem nessa perspectiva, serão 36 mil vítimas do trânsito ou mais.

Estatísticas que chocam e preocupam. Não são apenas índices, valores, números. Traram-se de famílias e lares destruídos, vidas que se vão - Vítimas da imprudência, da irresponsabilidade e da negligência.

O trânsito em Porto Alegre está cada vez mais caótico. Não chega nem perto – ainda bem - do caos de grandes centros, como Rio e São Paulo. Mas percebo que, de alguns anos para cá, os engarrafamentos não têm mais local nem hora para acontecer. Não são somente nos horários de pico e dias de chuva que a cidade fica intransitável. O horário de pico é constante. Tornou-se comum os congestionamentos às três horas da tarde em grandes e pequenas ruas de qualquer bairro.

Conforme o Detran/RS, em 1997 a frota de veículos em circulação no RS era de 2.619.719. Em 2007, este número é de 3.855.215.
Mas não é só o grande fluxo de veículos que traz complicações. A falta de sinalização, o desrespeito de motoristas e pedestres e os problemas estruturais da cidade contribuem da mesma maneira para os problemas de trânsito.
Caminho corriqueiramente pela região próximo ao parque da Redenção e imediações da avenida Oswaldo Aranha. Como pedestre, percebo as dificuldades trazidas pela ausência de uma faixa de segurança em frente ao Hospital de Pronto Socorro (HPS) no sentido bairro-centro. O asfalto foi recapeado recentemente (ano de eleições, é claro), e a faixa de segurança simplesmente não foi pintada novamente. Os pedestres atravessam na sinaleira sobre uma faixa imaginária, disputando seu espaço com os carros - que não possuem uma indicação de onde exatamente devem parar.

No mesmo ponto, em frente ao HPS, mas no corredor de ônibus (localizado no canteiro central da avenida), a faixa de segurança praticamente não existe mais. Digo “praticamente” porque, ali, o asfalto não foi recapeado, contudo, com o desgaste do tempo, ela desapareceu quase totalmente. Os pedestres atravessam sobre os resquícios de algo que um dia foi uma faixa de segurança e que, no passado, deve ter chamado a atenção dos ônibus e pedestres que circulam no local. Hoje sobraram apenas de resquícios da tinta branca no chão.


A ausência de faixa, ou mesmo a pintura desgastada, dificultam a circulação na cidade, aumentando os riscos de acidentes. Pessoas com alguma deficiência visual, por exemplo, não enxergam uma faixa quase desaparecida, totalmente desbotada no asfalto. Motoristas desatentos tampouco perceberiam aquela faixa. Uma faixa mal pintada perde sua função, torna-se inútil.

Assim como a faixa da foto, tantas outras em Porto Alegre estão nas mesmas condições, prestes a sucumbirem completamente.

Porém de nada adiantará uma sinalização impecável, vias asfaltadas, duplicadas e todas as condições para um trânsito que flua normalmente e com segurança se não contarmos com a colaboração, a educação, a consciência e o bom senso de todos. Eucação deveria ser a palavra-chave no trânsito. Para que serva uma faixa de segurança pintada adequadamente e uma sinaleira nos locais de maior movimento se, ainda assim, há pedestres que insistem em atravessar no sinal verde para os carros?


De nada adianta, da mesma forma, uma faixa de segurança se os carros não param para os pedestres quando não há uma sinaleira. O respeito deve ser mútuo, por parte de motoristas e pedestres.

E nós, como cidadãos, o que faremos em prol dessa causa? Aguardaremos de braços cruzados as próximas estatísticas do Detran apontando 36 mil (entre feridos e mortos) em todo o Estado até o final deste ano? Quantos serão até o momento, ainda em setembro? E no Brasil todo, quantos serão? E no mundo?

E você, o que faz? Qual sua parcela de culpa nessa realidade?

VII Feira de troca de livros de Porto Alegre no Parque da Redenção

Quem não gostaria de trocar os livros que não interessam por outros e reciclar sua leitura sem nenhum custo? Esta é a proposta da Feira de Troca de Livros de Porto Alegre, que acontece no dia 28 de setembro (domingo) junto ao Monumento ao Expedicionário, no Parque Farroupilha, das 10 às 17 horas.

A Feira organizada pela Biblioteca Pública Municipal Josué Guimarães chega a sua sétima edição com a participação de 16 bibliotecas que levarão ao parque livros para trocar com a população. Qualquer pessoa pode chegar em um dos stands e trocar seus livros por outros de seu interesse. A única condição é que os livros estejam em bom estado.

Nas edições anteriores, a média de público chegou a dez mil pessoas. A Feira de Troca de Livros de Porto Alegre surgiu com a intenção de divulgar as bibliotecas existentes e dar aproveitamento aos livros usados ou excedentes.

Outras informações podem ser obtidas através do telefone 3289.8079

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O fim do Modernismo e a Era do Rádio

Seminário A Aventura da Modernidade abordará “O fim do Modernismo e a Era do Rádio”

Dia: 27/09 (próximo sábado)

Local: Instituto Cultural Brasileiro Norte Americano (Riachuelo, 1257 – Porto Alegre

Hora: 9 horas

Palestrantes: Juremir Machado da Silva e Luis Carlos Saroldi

Entrada franca

Outras informações: (51) 3289 8072

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Dica de palestra

Infelizmente não poderei assistir essa palestra que ocorre amanhã e parece bem interessante. É bem no meu horário de trabalho, mas vale a sugestão para quem se interessar.


O ciclo de palestras Cultura Livre segue discutindo a obra de Machado de Assis. Na próxima quarta-feira, dia 24 de setembro, os professores Antônio Sanseverino (dr. em literatura, prof. da UFRGS) e Eduardo Wolf (Leonardo da Vinci) farão a conferência "Machado de Assis: ensaiando seus romances?". Professores da UFRGS, críticos, psicanalistas e escritores analisarão as mais variadas questões sobre os grandes livros do bruxo do Cosme Velho.

O evento gratuito inicia às 19 horas na Biblioteca Josué Guimarães do Centro Municipal de Cultura(Av. Erico Veríssimo, 307, Porto Alegre) com organização pela Coordenação o Livro e Literatura da SMC. Outras informações podem ser obtidas através do fone (51) 3289.8070.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Janela da Alma





Semana passada assisti Janela da Alma. Um documentário FANTÁSTICO. O mote do filme são pessoas com problemas de visão, o que elas são capazes de enxergar ou não, como elas vêem o mundo e como percebem as coisas ao seu redor. Sob direção de João Jardim e Walter Carvalho, o documentário não se restringe a uma análise física e simples da visão. Tampouco limita-se a classificar o ser humano como alguém que é ou não capaz de enxergar. A visão é abordada em uma dimensão muito maior. São trazidos depoimentos de 19 pessoas com alguma dificuldade visual, desde a miopia leve até a cegueira total.

Mais do que simplesmente nos permitir enxergar alguma coisa, a visão é tematizada como a forma como somos capazes de perceber o mundo e nos relacionar com ele.

Um dos depoimentos é o do cineasta Wim Wenders que conta que gosta de usar óculos. Ele está acostumado a ver o mundo através das lentes dos óculos. Não gosta de lentes de contato. Prefere o enquadramento dos óculos, pois eles lhe permitem focar, observar as coisas com mais detalhes, com mais precisão, ver tudo mais devagar. Ao retirar os óculos Wenders descreve que não sabe para onde olhar, percebe que seu campo de visão fica amplo demais. Sente-se um tanto perdido por não saber para onde olhar; não tem o enquadramento dos óculos para lhe orientar em que direção olhar, o que observar, a que se ater.

Outro depoimento interessante é o da filha de Arnaldo Godoy, então vereador de Belo Horizonte, que já era cego quando Madalena nasceu. Ele tinha retinose pigmentar, uma doença que pode levar à cegueira ao longo da vida. O pai sempre foi o seu maior orgulho. Ela o levava muitas vezes quando pequena na escola para apresentá-lo aos colegas, para que eles vissem que seu pai, realmente, não enxergava nada e, mesmo assim, tinha uma vida normal. Era um motivo de orgulho para as filhas e para todos.

Um dos trechos mais emocionantes é o de Arnaldo contando que, mesmo tendo ficado cego aos 18 anos, isso nunca foi um empecilho ou algo que atrapalhasse de verdade sua vida. Ele não deixou de andar pela cidade, casar, trabalhar, ter filhos e ser feliz. No início foi difícil assumir e aceitar a cegueira, mas teve de aceitar e aprender a conviver com ela. A alternativa é aceitar e tocar a vida. O que não tem solução, solucionado está, lembrando o velho ditado. Evidentemente não é nada fácil. Foi preciso apoio da família, dos amigos e, principalmente, um bom equilíbrio emocional e psicológico. Um exemplo de superação e perseverança.

Arnaldo aparece no banco de traseiro de um carro indicando para o motorista o caminho a seguir. O motorista, impressionado, pergunta como ele se localiza tão bem na cidade. Ele explica que presta atenção em referências que geralmente as pessoas não atentam como, por exemplo, o tipo de calçamento das ruas, as subidas e descidas, as curvas e retas, os sons da cidade, o barulho dos carros etc.

Mais adiante, o músico Hermeto Pascoal, com um problema sério de visão, diz algo que me marcou muito. Ele conta histórias relacionadas à sua deficiência, relata que enxerga muito pouco com os dois olhos. Mas, para ele, a verdadeira visão não é aquela convencional, que as pessoas estão acostumadas a atribuir aos olhos e ao que eles lhes permitem ver.

A verdadeira visão, segundo Pascoal, é a visão que vem da alma. É a nossa própria percepção do mundo. Ele diz que o olho que mais enxerga é o olho da alma – e aponta para sua testa, como seu terceiro olho. Afirma que é a partir dali que as pessoas enxergam verdadeiramente as coisas que importam em suas vidas.

Para completar – o que me deixou mais tocada ainda -, p músico pede todos os dias que Deus lhe proporcione que, em algum momento de sua vida, fique cego. Para os outros, cego. Para ele, é o que define como “cego aparente”. Busca essa situação para que possa perceber o mundo apenas com os olhos da mente, com os olhos da alma. Estes sim, os verdadeiros olhos do ser humano. Os olhos da alma são aqueles que sentem, que têm sentimentos, que têm sensações intensas.

A visão tradicional leva as pessoas prestarem atenção em coisas desnecessárias, coisas que não lhes agregam nada. A visão faz as pessoas enxergarem apenas as coisas materiais, as coisas ruins, muitas tragédias, tristezas, maldades, violência. Os olhos da alma não enxergam coisas fúteis ou banais, eles enxergam a verdadeira essência das pessoas, as características e qualidades de cada um; enxergam o mundo de uma forma mais verdadeira.

Janela da Alma vale a pena ser assistido por todos; por quem enxerga bem, enxerga mal ou mesmo por quem não enxerga nada (ele não é centrado em ações ou imagens, mas nos depoimentos de pessoas paradas, portanto, podendo ser visto por pessoas cegas).

Um filme que nos leva à reflexão. Que sensibiliza. Que faz “vermos” o mundo de outra forma, sem importar de que maneira possamos enxergar este mundo no dia-a-dia. Uma pessoa com a visão perfeita muitas vezes não é capaz de perceber coisas fantásticas, como as que as pessoas do filme percebem. Um filme para ser lembrado pela vida inteira.


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Para quem se interessou pelo filme, abaixo seguem alguns links interessantes relacionados ao tema: Resenha do filme

Resenha

http://www.mnemocine.com.br/cinema/historiatextos/040802critica_janela.htm

Informações técnicas http://www.interfilmes.com/filme_13649_Janela.da.Alma-(Janela.da.Alma).html

Reportagem na Folha de São Paulo http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u25174.shtml

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Medo

O medo impera na nossa sociedade e toma conta da vida das pessoas. Não estamos mais seguros em lugar algum. Não podemos sair de casa. Não podemos voltar tarde porque podemos ser assaltados. Não podemos abrir o portão da garagem sossegados porque pode ter alguém a nossa espera para roubar o carro ou fazer algo pior. Não podemos deixar os filhos sozinhos em casa porque é perigoso. Não ficamos tranqüilos em deixá-los andarem na rua sozinhos porque é perigoso. Não podemos ter muitos cartões na bolsa. Não devemos andar com o talão de cheques inteiro na carteira, apenas com uma ou duas folhinhas, a quantidade que formos usar. Não podemos abrir e mexer na bolsa em locais públicos porque facilita a ação dos bandidos. Não podemos retirar dinheiro no caixa eletrônico depois de um certo horário porque é perigoso. Ao sairmos de casa para uma viagem, mesmo que seja somente um final de semana, quanto mais cadeados colocarmos na porta melhor. Se possível, acionamos alarme, cerca eletrônica e câmera de segurança.

Medo de sair de casa. Medo da violência. Medo do olhar do outro. Medo da repressão. Medo da exposição. Medo de viver.

A síndrome do medo e da insegurança se prolifera como uma doença de alto teor contagioso, transformando a vida em uma realidade artificial e superprotegida. A mente humana é dominada por neuroses, angústias, medo, pavor, desespero.

A sociedade está doente, trêmula, angustiada, insegura, impotente.

Mas se tivermos medo de tudo, deixando que esse medo generalizado tome conta de nossas vidas e consuma nossas mentes e energias, simplesmente não viveremos mais. Prisioneiros de nós mesmos. Deixaremos de viver, de sair de casa, de ir a uma festa, encontrar os amigos, caminhar no parque, viajar, trabalhar, ter filhos, nos divertir etc. Seremos os bandidos, os vilões, os verdadeiros assaltantes de nossas próprias vidas, de nossa própria personalidade. Passaremos a apenas subsistir. Sim, reféns em nossas casas, ou melhor, fortalezas. O problema não está no outro. Nós somos destruidores de nossas próprias vidas ao deixarmos o medo ser mais forte que nós.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Dica de curso

Segue a sugestão de um curso que uma amiga irá ministrar. A Elaine é um amor de pessoa, além de uma excelente profissional. Vale a pena para o pessoal da área.


domingo, 14 de setembro de 2008

ENQUETE

Resolvi fazer uma enquete para saber, afinal, o as pessoas consideram felicidade. Fiz algumas entrevistas com a seguinte pergunta:

Para você, o que é felicidade?

Daniel Ávila - estudante universitário, 18 anos
"A felicidade não existe. A felicidade está nos pequenos momentos. Não existe uma felicidade plena. Nós nunca vamos ser sempre felizes".

Viviane Azeredo de Menezes – estudante universitária, 18 anos
“Não concordo com essa pergunta. Não é possível responder o que é felicidade. Querem padronizar esse conceito e determinar. por exemplo, que felicidade são as pequenas coisas. Existe toda uma construção de o que é felicidade: ser feliz é ter determinadas coisas, é ser certas coisas. Mas a pessoa escolhe o que é felicidade para ela”.

Paula Mortari – estudante universitária, 24 anos
“É passar um dia inteiro na praia, curtindo o sol, sem ter absolutamente nada pra fazer”.

Manoel Antônio Francisco – contramestre de obras, 48 anos
“Felicidade é estar de bem com a vida”.

Daniele Lanz - estudante universitária, 19 anos
“Felicidade pra mim é aproveitar cada dia da vida como se fosse o último. É fazer tudo que quiser, sem restrições, sem ter muitas regras. Pra mim, isso é ter felicidade. É aproveitar a vida”.

Leandro Helvinger – operador de estacionamento, 24 anos
“Felicidade é tudo que há de bom dentro de uma pessoa, o que a pessoa pode fazer com que as coisas se tornem mais fáceis e melhores no dia-a-dia de cada um. A felicidade, pra mim? Sem ela eu não vivo. Felicidade é uma forma de viver, de estar bem consigo mesmo. Caso contrário, não há nem porque viver. Uma pessoa que não é feliz, não vive, é infeliz, não tem vida”.

Sandra Rodrigues – advogada, 30 anos
“Felicidade pra mim é viver dignamente, de acordo com a minha própria vontade. Acho que o auge da felicidade da pessoa humana é quando ela consegue viver tendo seus direitos respeitados e quando ela tem trabalho”.


quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A incrível busca pela felicidade

O que é felicidade? Uma pergunta como essa não é fácil de ser respondida. Talvez porque as pessoas não saibam a resposta mesmo, talvez porque não saibam se expressar ou talvez porque sejam infelizes mesmo e nunca souberam o que é, realmente, felicidade.

O mundo dá voltas e voltas. Os dias surgem, nasce o sol, o sol brilha e se põe. O ciclo diário do dia e da noite se repete incessantemente. Enquanto não houver uma destruição total do Planeta (devido à destruição do meio ambiente que o homem vem causando), o nascer de cada dia é uma das poucas certezas que a humanidade possui. Cabe às pessoas transformarem seus dias em momentos alegres ou tristes, produtivos ou improdutivos, entusiasmantes ou entediantes, felizes ou infelizes.

Cada dia feliz, cada realização, cada alegria é uma conquista. Não acredito que exista uma felicidade plena, um patamar de êxtase que possa ser alcançado em determinado momento da vida e que, dali para frente, o indivíduo se considere feliz pelo resto de seus tempos por ter atingido determinadas metas ou sonhos, que o transformariam em uma criatura, enfim, feliz.

Se felicidade fosse algo simples não haveria tanta gente deprimida. Não haveria tantos casos de suicídio, depressão, overdose, doenças psicológicas etc. Se felicidade fosse simples, as pessoas a comprariam nas esquinas, assim como fazem com as drogas, com o cigarro ou álcool. Ao invés de comprarem cocaína, pediriam “dois quilos de felicidade”, enrolada pra presente, de preferência.

A vida não é tão simples assim. Ou melhor, a busca pela felicidade é algo inquietante, é um mistério que a humanidade não consegue desvendar. Na verdade, essa tão sonhada felicidade é o que impulsiona as pessoas a projetarem seus sonhos, buscarem um futuro melhor, conquistarem seus objetivos.

Mas a felicidade é algo apenas para o futuro? É uma busca permanente? Será que não podemos ser felizes no momento presente na vida? Não poderíamos estar satisfeitos com a nossa rotina, com a realidade, com os bens afetivos e materiais que possuímos no momento – e não preocupados apenas com aquilo que queremos para o futuro?

Creio que acomodação, o conformismo não são aspectos positivos como característica intrínseca do indivíduo. Contudo, valorizar o momento presente, os aspectos positivos na nossa vida, dos fatos que permeiam a nossa rotina, as nossas atividades diárias é essencial para a realização pessoal.

As angústias e aflições qie trazemos conosco por algo melhor em nossas vidas são fatores que nos impulsionam muitas vezes a termos coragem, lutar por sonhos, por melhores colocações etc. Porém, se levadas ao extremo, essas inquietações com o presente e a busca por um futuro melhor podem trazer conseqüências graves, como a infelicidade, a tristeza, a depressão. A pessoa insatisfeita consigo mesma não aproveita e não valoriza a própria vida.

Ninguém poderá jamais atingir essa felicidade futura se não puder, antes disso, atingir a felicidade presente, valorizar os aspectos positivos da sua realidade. Valorizar as pequenas coisas boas da vida é fundamental para a felicidade.

A felicidade não é apenas um emprego fabuloso ou uma viagem internacional. A felicidade é feita, antes de tudo, por momentos cotidianos. A felicidade, para mim, evidentemente, passa por sonhos e ideais, sucesso profissional e pessoal, a constituição de uma família etc. Mas, antes disso, felicidade é a construção diária da minha existência. É fazer cada um dos meus dias valer a pena. Ter momentos bons em cada dia do ano. Fazer algo produtivo, fazer o bem, sorrir

É acordar e respirar fundo. É ouvir o canto dos passarinhos e me dar conta de que sou privilegiada por tê-los na janela do meu quarto. Felicidade, para mim, passa por valorizar um belo dia de sol que eu possa caminhar no parque. Felicidade é abraçar os pais, é ter o apoio da família. É dar um beijo apaixonado no namorado. É ter amigos para rir, conversar, falar bobagens e se divertir. Felicidade é ter saúde – algo que só valorizamos quando ficamos doente. Felicidade é nos darmos conta de todas as coisas belas que temos na vida. É valorizar um cartão, um telefonema, um amigo que lhe sorri.

Sim, também sonho em viajar pelo mundo, conhecer países, uma bela casa, ser uma escritora reconhecida, fazer um cruzeiro de navio pela Europa. Mas, imagine só, se eu viver infeliz todos os meus dias enquanto não fizer esse cruzeiro? Ou enquanto não tiver conhecido o mundo inteiro? Valorizo, portanto, o presente, as coisas boas e maravilhosas que estão ao meu alcance hoje, embora não deixe de buscar atingir meus sonhos e ambições para o futuro.

A felicidade para mim, nesse momento, foi escrever esse texto e poder compartilhá-lo com outras pessoas.

Dificuldades e desafios nas calçadas de Porto Alegre

rua Lucas de Oliveira, esquina com a
Felipe de Oliveira

foto: Alexandre Nervo
texto: Mariana Baierle Soares


Caminho e tropeço pelas ruas de Porto Alegre e percebo como as calçadas da cidade são mal conservadas, destruídas e corroídas pelo tempo, pelo abandono e, principalmente, pelo desleixo generalizado e pela falta de preocupação da população e das autoridades com o próximo. Como portadora de uma deficiência visual parcial, passo por obstáculos absurdos e desumanos, que não deveriam existir em uma cidade como Porto Alegre, que se diz – principalmente em ano de eleições - tão desenvolvida e preparada para o futuro. Será?!

São raízes de árvores que levantam as calçadas. São buracos deixados pela prefeitura por toda parte. São os próprios moradores que não conservam as calçadas em frente às suas casas e edifícios. São lajotas faltando. São as obras mal sinalizadas, que podem gerar acidentes sérios. São canteiros mal construídos. São passeios sem calçamento algum. Por toda parte, onde observarmos com um pouquinho de atenção que seja, encontramos boeiros com as tampas levantadas ou abertas. Além dos deficientes visuais, os cadeirantes são aqueles que mais sofrem com esse relaxamento que prepondera em todos os bairros e por toda parte.

As pessoas não imaginam que o simples fato de colocarem uma sacola de lixo ou entulhos de uma obra no meio da calçada possa dificultar imensamente a locomoção de uma pessoa com dificuldade visual ou de um cadeirante. As ruas não estão preparadas para os cadeirantes, para os deficientes visuais ou para portadores de deficiência de forma geral. Uma sacola de lixo ou uma pedra podem representar um grande risco, uma ameaça séria ou uma dificuldade muitas vezes intransponível. Da mesma forma, uma caçamba de lixo no meio da calçada, caixas no meio do caminho, um carro estacionado na calçada, uma árvore ou um poste caído, uma obra mal sinalizada etc.

No centro da cidade ainda encontro rampas de acesso para cadeirantes nas esquinas. Em todos os outros bairros, contudo, isso não ocorre. Mas, ora essa, cadeirantes andam somente pelo centro de Porto Alegre? Essa eu não sabia, não dá pra conceber um absurdo desses.

Possibilitar o acesso de pessoas com deficiência pela cidade não é um favor ou uma boa ação que as autoridades e algumas entidades estão fazendo. Não precisamos acreditar que as empresas e os governos que se preocupam com os deficientes são entidades louváveis e admiráveis. Eles não fazem mais que a obrigação.

As empresas, as cidades e os locais públicos não surgiram preparados para dar acesso a portadores de deficiência.

O homem esqueceu que as pessoas não são todas iguais; projetou que em um país com 189 milhões de habitantes todos seriam capazes de subir e descer escadas tranquilamente, correr, passar por buracos, desviar de obstáculos, escutar perfeitamente, enxergar, caminhar, se movimentar; esqueceu de si mesmo; esqueceu que as pessoas têm suas particularidades, suas deficiências e limitações.

Adaptar o espaço público e privado para viabilizar o acesso de todos é uma obrigação da sociedade, do governo, da iniciativa privada e de cada cidadão individualmente. Ninguém está excluído dessa obrigação. Todos poderiam ter nascido com uma deficiência. Qualquer pessoa pode ter um filho com deficiência, ou ainda, adquirir uma deficiência ao longo da vida. Portanto, construir uma sociedade que permita a inclusão de todos a qualquer lugar não é um ato de nobreza ou digno de louvores e aplausos. É apenas uma preocupação, que já deveria estar disseminada há muito tempo na consciência de todos.

Lembre-se disso quando fores obstruir uma rampa de acesso a cadeira de rodas simplesmente porque era o local mais fácil de estacionar. Pense nisso quando atravessar correndo uma rua movimentada por entre muitos carros. Olhe ao seu redor se não existem pessoas precisando de auxílio Na parada do ônibus ajude quem precisar de ajuda, seja para subir no ônibus, seja para ler a placa do ônibus.

Ensine seus filhos, desde cedo, a conviver, a respeitar e, principalmente, a admirar as diferenças. Mostre às crianças que nem todos são iguais e o quão maravilhoso é o fato de todos serem diferentes uns dos outros. Absolutamente todos têm suas particularidades, o que reforça que a minha certeza de que “deficientes” e “diferentes” é algo muito relativo. Diferente para quem? Diferente de que? Se cada indivíduo é único, como pode existir um padrão?

A verdade é que todos possuem alguma limitação ou deficiência, de diferentes ordens. Algumas pessoas possuem uma limitação física, mas que, com pequenas atitudes daqueles que a cercam, são facilmente superadas.

A pior limitação é a psicológica, é o preconceito, é a ignorância. Fingir que não existem deficientes circulando por Porto Alegre ou por qualquer outra cidade do Planeta e que as ruas não precisam estar preparadas para lhes proporcionar segurança e tranqüilidade é a maior das limitações que um ser (humano?) pode ter. Este é o pior atraso em termos de mentalidade e perspectivas para o futuro e que uma sociedade pode enfrentar. É uma mentalidade atrasada, que envergonha qualquer grupo social dotado de valores mínimos de respeito e igualdade.

Agora proponho que, na próxima vez você que sair de casa a pé, seja para qual destino estiver indo – longo ou curto, de dia ou de noite, acompanhado ou sozinho -, observe as calçadas, observe detalhadamente o caminho que faz, os obstáculos que existem, os locais que você precisa desviar. Preste atenção também na sua postura, no grau de atenção que você desprende com as coisas ao seu redor, com o movimento da rua e a tudo que lhe rodeia. Coloque-se, então, no lugar de uma pessoa com alguma deficiência, para a qual tudo fica mais difícil. Não tenha jamais pena dessas pessoas, elas não precisam – e tampouco querem – que alguém tenha pena delas. Tenha apenas respeito e disponibilidade em ajudá-las no que estiver ao seu alcance. Tenha pena, sim, das pessoas preconceituosas, com a mentalidade pequena. Os indivíduos com deficiência são fortes, aguerridos, batalhadores. Pense em como você poderia, com simples ações, facilitar a vida deles e já estarás contribuindo, e muito, com eles